25/03/2010

Chatroulette

Quem entra pela primeira vez no Chatroulette, um site de videochat no qual você e mais um desconhecido qualquer podem interagir através de suas webcams, depara-se de cara com esta singela mensagem: “Por favor, fique vestido”. Na teoria, somente internautas com mais de 16 anos podem acessar o Chatroulette e conhecer, aleatoriamente, pessoas engraçadas, pervertidas, entediadas, criativas e/ou ociosas (não necessariamente nesta ordem). Criado por Andrey Ternovskiy, um estudante russo de 17 anos (fato que me fez entender porque o site não é restrito a maiores de 18 anos), que teve a ideia enquanto conversava com amigos por Skype, o Chatroulette virou a bola da vez na internet, e não é difícil de entender o porquê.
Pra começar, você não precisa preencher nenhum cadastro chato ou fazer qualquer login para entrar na festa. Basta ativar sua webcam, clicar no botão “New game”, e pá-pum: você já entrou nesta roleta russa de pessoas estranhas que começarão a aparecer na janela do lado esquerdo no alto da página. Se a imagem que aparecer no videochat não lhe agradar, basta apertar “Next” para que o sistema do site busque outra webcam aleatória mundo afora. Ou seja, trata-se de fato de uma roleta russa humana, na qual o acaso joga dados, fazendo com que absolutamente qualquer um dos cerca de 35 mil usuários que estão acessando simultaneamente o Chatroulette possa pipocar em seu monitor.
Paris Hilton no Chatroulette
Paris Hilton flagrada no Chatroulette, durante sua passagem no Rio de Janeiro em fevereiro.
Nestes tempos de bigbrotherização das nossas vidas, nada mais natural do que um site no qual pessoas entram para ver e serem vistas tornar-se o hit da vez. E, do mesmo modo que ocorreu com o Twitter, que originalmente foi concebido como um serviço mobile para compartilhar suas atividades cotidianas, e acabou por se tornar um veículo de informações em tempo real sobre eventos como o terremoto no Chile ou o julgamento dos Nardonis (motivando a equipe do Twitter a mudar sua pergunta inicial de “o que você está fazendo?” para “o que está acontecendo?”), creio que o Chatroulette, que surgiu em novembro de 2009, ainda poderá ser aplicado para muitas coisas além dos óbvios usos exibicionistas e onanísticos, constatados por qualquer um que já passou 10 minutos conectado e se deparou com informações visuais realmente desnecessárias, em especial na hora do almoço.
Uma das brincadeiras mais comuns no Chatroulette: propor que as 
pessoas façam determinada expressão.
Uma das brincadeiras mais comuns no Chatroulette: propor que as pessoas tentem imitar determinada expressão.
Tudo na vida é uma questão de timing. Antes do estouro do Chatroulette, já havia outro site, criado 8 meses antes, o Omegle, que também propõe que você converse de forma randômica com qualquer outro maluco que esteja conectado. Porém, não “pegou”, do mesmo modo que foi o Orkut a rede social que emplacou no Brasil, ao invés do seu predecessor Friendster. E, assim como o bem-sucedido Orkut inspirou a criação de dezenas de outros sites semelhantes, já estão no ar vários clones do Chatroulette, como os brasileiros Catapapo e Chat Rolé. Eles têm alguma chance de vingar? Bem, até digo que é possível; afinal de contas, a chave para o sucesso de qualquer rede social, mais do que as features que oferece, é a formação de uma comunidade ativa de usuários, responsáveis por darem vida a um projeto.
O Chatroulette jamais seria a febre atual que é se não fosse frequentado por figuras como Merton, uma figura que liga a sua webcam e improvisa músicas na hora, tal qual um repentista 2.0, de acordo com as reações de cada pessoa que encontra no videochat. Seu primeiro vídeo postado no YouTube obteve nada menos que 4 milhões de visualizações em pouco mais de duas semanas. E motivou o cantor Ben Folds a fazer uma homenagem a Merton. Em um show para cerca de 2 mil pessoas, Ben fez o mesmo que o “piano guy”, acessando o Chatroulette e tocando de improviso à medida em que pessoas apareciam na webcam. O resultado? Um outro vídeo que, postado em 20 de março, já foi visto 1,9 milhão de vezes em apenas 5 dias.
O desenhista do Chatroulette
Outro exemplo de criatividade no Chatroulette: o caricaturista de anônimos do videochat.
É claro que, em meio a sacadas bacanas como a de Merton e o pessoal da banda I Am Un Chien, que fez um videoclipe colaborativo da música “Hologram” aproveitando a reação dos chatrouletters ao seu som, o incauto que destinar uma fração do seu tempo para se aventurar no site encontrará inúmeras pessoas se masturbando ou compartilhando imagens pornográficas tão sutis quanto um elefante dançando macarena. Mas a impressão que tenho é de que sempre foi assim na própria internet em geral, desde os idos tempos do mIRC. Por isso, antes de encarar um Chatroulette como mais uma extravagância inútil, creio que há muitas possibilidades a serem explorados dentro do conceito deste site. Que, no mais, já valeria só pelas boas gargalhadas que dei ao ver as imagens compiladas por http://chatroulette.tumblr.com ou a matéria protagonizada por Jon Stewart, do programa The Daily Show. No mais, penso no Chatroulette como uma expressão fiel do zeitgeist destes tempos contemporâneos, no qual você precisa ser instantaneamente criativo a fim de conseguir capturar a atenção de alguém antes de levar um “next” na cara. E aí recordo a filosofia instantânea de Flávia Lacerda, a @frufru, no Twitter: “A vida é uma grande disputa por quem dá next antes”.

FONTE: http://colunistas.yahoo.net/posts/894.html

2 comentários:

Amana Raab disse...

Oiii... Legal!
Eu não conhecia o site.

Perigoso, mas bacana.
;)

p.s: vc tá sabendo que quando a gente clica no seu arquivo ou até mesmo pra postar em seu blog aparece um pop-ip estranho, né?

A Ficção do Real disse...

oi.... não sabia dessa do pop-ip estranho. vou ver isso. Valeu pela dica!