11/04/2012

Análise matemática da fala flagra esquizofrenia


GIULIANA MIRANDA

DE SÃO PAULO


A forma como alguém conta uma história pode revelar muitas coisas, inclusive transtornos psiquiátricos. Pesquisadores brasileiros criaram um método que consegue identificar pacientes com esquizofrenia e com mania apenas usando a fala.
O trabalho começou a ser desenvolvido em 2006 e, ao longo do tempo, envolveu um time de cientistas de várias especialidades, liderados por uma equipe do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal).
Os pesquisadores criaram um modelo que transforma em gráficos (grafos) o discurso dos pacientes. E, a partir desse padrão, é possível identificar padrões e correlações que são bastante específicos dessas duas psicoses.
No experimento, os cientistas analisaram 24 pessoas, sendo oito delas com diagnóstico prévio de esquizofrenia, oito de mania e oito sem psicoses diagnosticadas.
Editoria de arte/Folhapress
O MÉTODO
O primeiro passo é uma entrevista, na qual se pede que os pacientes contem um sonho. Esse relato é gravado e transcrito. Depois, é aplicado um software usado no estudo dos grafos -área que já é consagrada na psiquiatria- que destaca os pontos relevantes da fala dos pacientes.
O programa, além de indicar os pontos de conexão da conversa, apresenta as principais diferenças no discurso dos voluntários.
Os resultados são simples de interpretar visualmente. Os grafos dos pacientes com mania são muito mais densos, com várias idas e vindas em relação ao tema do relato. Em geral, a pessoa "se perdia" mais na conversa, uma característica marcante das pessoas com esse transtorno.
Já os grafos dos pacientes com esquizofrenia são mais retilíneos e seguem uma sequência menos caótica. Os pacientes tendem a falar menos, a ser mais contidos no relato de suas experiências.
"Um psiquiatra treinado é capaz de, em uma conversa longa no consultório, chegar às mesmas conclusões. Esses padrões de discurso já são notados. O que nós criamos agora é uma forma mais rápida e quantitativa de abordar a questão", explica Natália Mota, do Instituto do Cérebro, uma das autoras do trabalho, publicado na "PLoS ONE".
Embora os cientistas tenham conseguido taxa de sucesso no diagnóstico de cerca de 93%, bem maior do que os cerca de 67% das escalas mais usadas pelos psiquiatras, Mota ressalta que o método deve complementar as avaliações usadas atualmente. "Ele não substitui a experiência do consultório."
O neurocientista Sidarta Ribeiro, que também participou do trabalho, vê um grande potencial no método.
"Por enquanto, nós analisamos apenas a forma com que as coisas foram ditas. A questão semântica ainda não entrou nesse trabalho. Mas nós já começamos uma próxima etapa, que vai juntar tudo isso. Estamos trabalhando para aperfeiçoar essa ferramenta", diz o cientista.

26/03/2012

Gás hélio ameaçado de extinção



DE SÃO PAULO


O cientista Oleg Kirichek, que pesquisa feixes de nêutrons no Reino Unido, recebeu uma notícia desagradável na semana passada. Um de seus principais experimentos, projetado para investigar a estrutura da matéria, teve de ser cancelado por falta de gás hélio.
As informações são do jornal britânico "The Guardian".
O gás é utilizado para resfriar os átomos para cerca de -270ºC, reduzindo suas vibrações e os tornando mais fáceis de estudar.
Segundo Kirichek, pesquisas que investigam estrutura da matéria, aparelhos de ressonância magnética e outros dispositivos avançados que utilizam o gás podem em breve ter que reduzir as operações ou até mesmo pararem porque há desperdício de gás hélio.
O principal vilão são os balões de festa. O gás hélio é abundante no universo, mas raro no planeta Terra. Em São Paulo, um botijão para encher cem balões custa cerca de R$ 120.
Carlos Cecconello/Folhapress
Balões voam para longe graças ao gás hélio
Balões voam para longe graças ao gás hélio
"Colocar gás hélio em balões de festa e deixá-los escapar para a atmosfera ou o usarmos para deixar nossa voz ficar estridente [outro uso divertido do gás] é muito, muito estúpido. Fico realmente irritado com isso", disse o cientista.
O hélio é um gás inerte que não reage com outros produtos químicos e é, portanto, seguro de manusear. É importante para a ciência porque, mesmo a temperaturas extremamente baixas, não se solidifica e assim pode ser usado, em forma líquida, para resfriamento, um recurso vital para cientistas que trabalham em muitos campos.
Na Terra, há uma oferta limitada de hélio. Essencialmente, existem bolsões de gás próximos à camada de petróleo e, durante a perfuração, o gás sobe à superfície.
Na década de 1920, os EUA decidiram que o gás hélio seria um recurso estratégico. Na época, ele era usado em aeronaves.
Nos últimos anos, a procura aumentou e os estoques começaram a se esgotar.
Ironicamente, o hélio é o segundo elemento mais abundante no universo, perdendo apenas para o hidrogênio.